Às 24 semanas o pirulito já é capaz de ouvir grande parte
dos sons mais graves. Naturalmente a voz da mãe é a primeira a ser reconhecida.
Parece que o reconhecimento não é só unicamente sonoro, mas que a própria
língua da mãe – ou melhor, os sons mais repetidos da língua materna, começam a
ser identificados e processados mais rapidamente (nesta fase começa também a
desenvolver-se a memória). Alguns estudos parecem demonstrar que quando uma
criança nasce é capaz de distinguir praticamente todos os sons de todas as línguas,
o que faz sentido se traduzirmos esta capacidade no potencial para poder falar
correctamente qualquer língua existente. Ao longo da aprendizagem o cérebro é treinado
para reconhecer ao pormenor os diversos sons da língua materna e perde a
capacidade para reconhecer aqueles inexistentes na própria língua materna.
Trocando isto por miúdos, é um bom momento para começar a falar tanto com a
barriga (o que pode ser muito estranho!)! Como eu passo a vida a falar
italiano, penso que uma boa alternativa também poderá ser aquela de ouvir muita
música cantada em português, não sei se funciona, mas é um exercício muito
giro! Uma coisa que me agrada muito é que tenho tido muita vontade de rir, como
se as gargalhadas me saíssem com mais facilidade do que o normal, e adoro a
ideia deste pequenito aconchegado nesta piscina de água quente dentro de mim
que cresce ao som de gargalhadas, conversas italianas e música portuguesa, será
certamente falador, alegre e com uma boa pitada de poeta luso!
Um outro sentido que se desenvolve muito nesta fase é o
paladar do catraio. Para treinar a respiração, ele vai engolindo pequenas
porções do líquido amniótico que tem um sabor determinado pela dieta da mãe. É
provável que isto comece a moldar as suas futuras preferências de gosto e
talvez explique em parte esta recente vontade da mãe em comer (e cozinhar!) mais
pratos de sabor português. O pai queixa-se que a mãe não come alcachofras
(credo que horror, quem é que come aquilo???) e assim o feijão nunca se habituará
a este maravilhoso (???) vegetal rico
em não sei que coisa… é caso para dizer, paciência! E depois a alcachofra tem
uma história mitológica nada inspiradora e um nome igualmente desinteressante.
Na minha opinião de mulher-grávida-futura-mamã-e-que-portanto-tem-sempre-razão é
melhor esperar que floresça porque as flores – que vão do lilás ao roxo – ficam
muito bem como centro de mesa :-D
A vida do dia a dia corre tranquila entre trabalhitos,
divagações grávidas, passeios e estudo de italiano. Não sei se era claro, mas
recomecei a ter aulas de italiano, a ideia é subir francamente a minha
competência linguística seja a nível escrito seja ao nível do uso
profissional-formal da língua. É um desafio cansativo visto que eu já estava
confortavelmente acomodada na fase “toda a gente me compreende e diz que falo
bem, portanto tasse”, e já tinha o cérebro programado para saltar as pequenas
incompreensões. Agora tive que dar alguns passos atrás e voltar a prestar muita
atenção aos erros, Às incorreções e às coisas não percebidas. É um processo
bastante cansativo e um pouco frustrante (é muito mais relaxante ser a tipa
estrangeira que fala bem apesar das gafes) mas ao mesmo tempo é estimulante sentir
os progressos e o nível da língua a crescer – apesar de serem progressos
francamente mais lentos graduais do que
no princípio.
Por agora é tudo (já foi produtiva esta longa hora de
insónia…), volto para o meu vale de lençóis e almofadas e abraço-vos a todos e
todas com muita força.
Até breve!
Carina Rino
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