sábado, 9 de fevereiro de 2013

Novos Sentidos



Às 24 semanas o pirulito já é capaz de ouvir grande parte dos sons mais graves. Naturalmente a voz da mãe é a primeira a ser reconhecida. Parece que o reconhecimento não é só unicamente sonoro, mas que a própria língua da mãe – ou melhor, os sons mais repetidos da língua materna, começam a ser identificados e processados mais rapidamente (nesta fase começa também a desenvolver-se a memória). Alguns estudos parecem demonstrar que quando uma criança nasce é capaz de distinguir praticamente todos os sons de todas as línguas, o que faz sentido se traduzirmos esta capacidade no potencial para poder falar correctamente qualquer língua existente. Ao longo da aprendizagem o cérebro é treinado para reconhecer ao pormenor os diversos sons da língua materna e perde a capacidade para reconhecer aqueles inexistentes na própria língua materna. Trocando isto por miúdos, é um bom momento para começar a falar tanto com a barriga (o que pode ser muito estranho!)! Como eu passo a vida a falar italiano, penso que uma boa alternativa também poderá ser aquela de ouvir muita música cantada em português, não sei se funciona, mas é um exercício muito giro! Uma coisa que me agrada muito é que tenho tido muita vontade de rir, como se as gargalhadas me saíssem com mais facilidade do que o normal, e adoro a ideia deste pequenito aconchegado nesta piscina de água quente dentro de mim que cresce ao som de gargalhadas, conversas italianas e música portuguesa, será certamente falador, alegre e com uma boa pitada de poeta luso!

Um outro sentido que se desenvolve muito nesta fase é o paladar do catraio. Para treinar a respiração, ele vai engolindo pequenas porções do líquido amniótico que tem um sabor determinado pela dieta da mãe. É provável que isto comece a moldar as suas futuras preferências de gosto e talvez explique em parte esta recente vontade da mãe em comer (e cozinhar!) mais pratos de sabor português. O pai queixa-se que a mãe não come alcachofras (credo que horror, quem é que come aquilo???) e assim o feijão nunca se habituará a este maravilhoso (???)  vegetal rico em não sei que coisa… é caso para dizer, paciência! E depois a alcachofra tem uma história mitológica nada inspiradora e um nome igualmente desinteressante. Na minha opinião de mulher-grávida-futura-mamã-e-que-portanto-tem-sempre-razão é melhor esperar que floresça porque as flores – que vão do lilás ao roxo – ficam muito bem como centro de mesa :-D

A vida do dia a dia corre tranquila entre trabalhitos, divagações grávidas, passeios e estudo de italiano. Não sei se era claro, mas recomecei a ter aulas de italiano, a ideia é subir francamente a minha competência linguística seja a nível escrito seja ao nível do uso profissional-formal da língua. É um desafio cansativo visto que eu já estava confortavelmente acomodada na fase “toda a gente me compreende e diz que falo bem, portanto tasse”, e já tinha o cérebro programado para saltar as pequenas incompreensões. Agora tive que dar alguns passos atrás e voltar a prestar muita atenção aos erros, Às incorreções e às coisas não percebidas. É um processo bastante cansativo e um pouco frustrante (é muito mais relaxante ser a tipa estrangeira que fala bem apesar das gafes) mas ao mesmo tempo é estimulante sentir os progressos e o nível da língua a crescer – apesar de serem progressos francamente mais lentos  graduais do que no princípio.

Por agora é tudo (já foi produtiva esta longa hora de insónia…), volto para o meu vale de lençóis e almofadas e abraço-vos a todos e todas com muita força.

Até breve!
Carina Rino

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