Mês de grandes emoções e prelúdio de grandes mudanças.
Depois de duas semanas de estudo intensivo de italiano fiz
finalmente o malfadado exame que certifica a minha competência em italiano L2,
nível C2, que é como quem diz nível praticamente de língua materna. Resultados?
Só daqui a um mês (muito didático). Foram sete horas com duas pausas de
meia-hora. Depois de uma maratona do género queres passar ao exame
principalmente para não ter que o refazer, e o cérebro está literalmente em
papas. Se estiveres grávida de 7 meses e meio, é provável que o resto do corpo
também esteja em papas.
Done.
Depois do exame, decidi que ainda podia trabalhar mais vinte
dias. Médica e futuro-papá meteram-se de conluio para me convencer que era
melhor parar já. Não me convenceram mas não tinha energia para os contrariar –
nota mental uma semana depois- médica e futuro-papá tinham razão.
Tic Tac TicTac
É difícil pensar noutras coisas. A iminência do evento
transborda para todos os aspectos do dia a dia. O catraio é tão grande que grande
parte dos seus movimentos são perceptíveis. E é um catraio que gosta de se
esticar, e estica-se. E lá vai uma parte da minha barriga para cada lado, às
vezes acho que ele pensa que está dentro de um ovo, e que se empurrar mais um
bocadinho consegue sair, penso que está a ficar impaciente…
Tic Tac
Um ano de casamento (parece que sou uma fêmea surpreendentemente
eficaz, casório a pouco mais de um ano e já estou para parir um filho, os meus
antepassados iam ficar orgulhosos!) é a desculpa ideal para uma mini escapadela
romântica, lá fui eu com o ex-noivo-futuro-papá e ele com a sua baleiazinha de
estimação. Sim, porque agora sou realmente uma pequena baleia fora de água, e
digo-o com ternura! Mas não é possível descrever a impotência física que não
tem alternativa a render-se às evidências. Não descreverei a infinidade de
pequenos gestos quotidianos que se tornaram autênticas aventuras, nem as
manobras complicadas que é preciso fazer para simplesmente sair da cama. Nada
que uma boa dose de ironia e um futuro-papá muito paciente não ajudem a
ultrapassar.
Apesar das agora imensas restrições físicas, continua a ser
um momento muito especial, talvez mais introspectivo. É agora que me sinto
literalmente na “doce espera”, entregando-me sem resistência às minhas hormonas,
e juntas vamos preparando o grande evento e o ninho. Também me deixo navegar
pelas águas mornas da curiosidade, como será, como não será, gostará de
morangos? Como vai ser o cabelo? Será resmungão?
Seja como for, sinto que também ele se prepara, os soluços
agora frequentes significam uma afinação dos pulmões (único órgão que ainda não
funciona plenamente). Prepara-se para a grande viagem, afinal Parto vem de
partir, e o piruças faz as provas finais. Agora pode nascer a qualquer momento
sem ser considerado prematuro, mas eu espero que ainda se deixe estar aqui no
aconchego mais umas três semanitas pelo menos, porque eu ainda preciso de duas
ou três afinações cerebrais, já para não falar do berço e da banheira. Ah, e da
máquina-destruidora-de-fraldas-mal-cheirosas – o progresso não é maravilhoso?